A comum expectativa: é chegado um final de semana em que se espera algo produtivo para fazer, ou alguma esquina para tomar uns bons drinks.
O programa da noite foi um show, um excelente show.
Apesar do brilho do espetáculo, o que mais me chamou a atenção foi a maneira que os aparentes flanelinhas abordavam os motoristas ao estacionar seus carros:
- Boa noite. O nosso esquema aqui é o adianto de “5 conto” agora e “5 conto” no fim do show - “10 real” pra olhar teu carro.
- Boa noite. Não entendi. O estacionamento aqui é público, certo? – respondi.
- Isso mesmo. Mas aqui “nóis” cobra é assim.
O ar de impotência, que já senti em algumas situações, veio à tona. Fiquei a me perguntar o porquê de estar sendo cobrada (tão caro) por um serviço que devia estar sendo prestado pelo Estado, mais especificamente, pelo governo do Distrito Federal.
- Amigo, eu não vou combinar esse valor contigo. No final do show, se você estiver aqui, te dou um agrado, como comumente é feito com as pessoas que costumam olhar o carro.
- Isso aí é tu que sabe, patroa. Mas fica sabendo, teu carro tá marcado!
A impotência não estava só no ar, me senti obrigada a tirar o carro da vaga que estava disponível, para não ter surpresas desagradáveis ao final do show. Não era somente o valor que me intrigava, a maneira como o “acordo” foi imposto me chamou atenção.
É revoltante. Me surpreendeu. Nunca tinha me ocorrido algo parecido. No máximo um torcer de nariz ao receber uma moeda de 25 centavos, mas ouvindo um leve “Deus te acompanhe” ao sair da vaga.
O caso de hoje me assustou. A alternativa foi me acovardar e procurar outro lugar para estacionar o carro. Absurdo! Não contratei nenhum serviço, não pedi a ninguém que vigiasse meu carro, o estacionamento era, de fato, público.
Anormalidade, atipicidade, abuso, revolta... Tudo à primeira vista! Infelizmente, isso não assusta a todos. Muitos já se acostumaram. Preferem pagar, intimidar-se, a ter um bem deteriorado.
Inteligência? Talvez.
Fico então na minha burrice, mas com a consciência tranqüila de não ter contribuído com aquele que explora para vencer.
Posso ouvir de alguns, que a vida deles é de luta, batalha e estão dia após dia atrás do pão para comer.
Pois a minha vida e a de milhares de brasilienses é exatamente igual, mas não ouso tirar vantagem daquilo que não tenho direito.
Pra mim, esse foi o correto. Apenas não contribuir com o errado.
Lorena de Souza Rocha